Professor cria produto que protege o café contra geada e aumenta resistência a ferrugem

por | out 27, 2022 | Agropecuária Destaques, Café, Clima, Editoria Especial, Editoria Especial Destaque | 0 Comentários

Há anos as intempéries climáticas são um desafio para o produtor rural. O agronegócio conhecido como indústria a céu aberto, tem entre os principais desafios, o clima. Entre a falta de chuva ou excesso delas, as plantas sofrem hiatos que prejudicam a nutrição e o desenvolvimento. No ano passado as geadas atingiram fortemente muitas lavouras no Sul de Minas, em especial a cafeicultura que foi prejudicada e produziu muito menos esse ano. E pensando justamente em soluções que podem garantir ao produtor certa tranquilidade, um professor e também pesquisador de Santa Rita do Sapucaí, no Sul de Minas Gerais, criou um produto que protege o café contra geada.

Isso mesmo, você não leu errado! O produto foi testado em fazendas da região, durante a ocorrência de geadas no ano passado. A descoberta foi uma grata e bela surpresa para o professor e pesquisador Francisco Eduardo de Carvalho. Isso porque quando deu início as pesquisas, o foco não era a proteção contra a geada. O foco inicial do estudo era uma adubação foliar, e a grande surpresa foi durante as geadas registradas em 2021. “Esse não era o nosso alvo primário, mas no ano passado nos surpreendemos, porque as plantas que estavam sendo testadas, saíram ilesas da geada, enquanto as demais queimaram ou morreram. Foi uma grata surpresa.”, explica o professor.

O mecanismo que atua protegendo a planta do café, de acordo com o professor é simples, se tratar de um sobreengordurante que evita a formação de cristais de gelo na folha. “O nosso produto ele tem um sobreengordurante, no popular um detergente, mas atóxico, a gente já testou isso em animal, temos Propólis e Fitoextrato, ou seja ele é um produto que pode ser classificado como natural. Atóxico, porque ele chega em toxilogia nível cinco, ou seja, dá até pra beber. No ser humano, a gente sabe as moléculas que ele possuí, que tem ação anti- inflamatória”.

O produto é considerado novidade e os produtores que fizeram parte da pesquisa e tiveram suas lavouras testadas, destacam que se trata de algo inovador e que não existe nada similar no mercado. Como é o caso da produtora Paula Dias, que durante a geada do ano passado, temeu pelos seus talhões. “Eu pedi ajuda para o professor quando tivemos a geada no ano passado. Eu tive um vizinho que perdeu tudo e eu levei um susto enorme com aquilo. Quando entrei em contato ele me forneceu esse produto para o teste. E foi interessante, porque o produto, se eu for te descrever, durante a aplicação ele parece um sabão e quando cai a geada, ela já escorrega”.

O Sitio Capinzal, que fica na Serra da Mantiqueira, possui cafés cultivados em uma região de montanha, logo a geada trouxe para essa região uma grande preocupação. Na propriedade, a família possui um talhão que tem cerca de 50 anos. Hoje chamado como “talhão do professor”, ele apresentou resultados incríveis durante a geada. “Nesse talhão eu percebi as folhas mais firmes na hora da colheita. As frutas maduras estavam mais uniforme e o grão estava maior, mais graúdo, tivemos uma boa produção”, relata Paula.

A produtora explica que o teste em sua fazenda, foi feito com a variedade Mundo Novo, onde percebeu também que o grão teve um brics muito bom para um café que passou por geada tão severa. “Fiquei surpresa, e quando levei pra máquina, pra despolpar, o grão estava tão grande que agarrou na minha máquina”.

Feliz com o resultado, a produtora conta que agora planeja continuar colaborando com a pesquisa e vai testar o produto em outra variedade e sem geada dessa vez. “Meu resultado foi excelente, produzimos um café de 88 pontos, um café de muita qualidade. Foi uma grata surpresa, porque estávamos tensos na época”.

Mais produtividade e resistência de 80% contra ferrugem

Os testes estão sendo realizados há dois anos em lavouras diferentes. O produto foi testado em lavouras de variedade Mundo Novo e Acaiá. O professor relata que nos dois testes, os produtores pediram mais produtos após a geada. “Fizemos uma segunda aplicação e quinze dias depois veio outra geada mais forte e as plantas saíram sem danos nenhum. Ele realmente protegeu as plantas dos danos das geadas”.

Os teste ainda mostram que com as 90 plantas controladas com o produto, houve aumento de 40 sacas para 53 sacas por hectare, além do ganho de peneira. E um dos grandes destaque da pesquisa foi a resistência que as plantas ganharam durante o teste.

“Ele deu uma certa resistência a dessecação, as plantas mesmo com 55 dias sem chuvas aqui no Sul de Minas, não perderam folhas e isso foi algo muito bom, ainda mais antes da colheita. E outro ponto interessante, é que ele aumentou as reservas da planta, garantindo a defesa dos frutos e da qualidade. E ainda tivemos a redução de 80% da ferrugem durante os teste, isso sem o uso de defensivos”.

Segundo o professor, os teste agora continuam, porém em outras regiões e com outras culturas. Atualmente o produto é testado em banana, no norte de Minas, no setor de hortifrúti e no plantio de uva também no Sul de Minas. “Estamos ampliando os testes, pra ver nas outras culturas o efeito que ele tem”.

Dentro dos tramites legais, o produto já está sob análise do Ministério da Agricultura para que seja liberado para comercialização.

 

 

Leia também