O desenvolvimento da safra brasileira de café, segue dependendo fortemente o clima. Entre os especialistas do setor, a possibilidade de quebra por conta dos estragos provocados pelo fenômeno El Niño, é quase certa. No entanto, ainda não é possível mensurar o tamanho da safra e nem mesmo como deve ficar a produtividade.
Na maioria das regiões produtoras, a ausência de chuvas e o calor excessivo ocasionou a escaldadura dos cafeeiros. No Cerrado mineiro, região que deve entrar em ano de bienalidade negativa, naturalmente deve produzir abaixo da capacidade, em comparação com a safra anterior.
“A região vem de uma safra muito alta e têm sofrido com a distribuição desuniforme das chuvas. Essas condições climáticas, tem afetado diretamente a planta, fazendo com que as lavouras tenham uma demora no potencial vegetativo, produtivo tanto para essa safra quanto para a safra futura”, explica Paulo Azevedo, Líder de Marketing Café e Citros Syngenta.
O cenário no Sul de Minas, principal região produtora do país, é similar ao Cerrado. Na região as altas temperaturas prejudicaram o pegamento da florada e potencializaram a queda de chumbinho em muitas lavouras.
E tanto no Sul de Minas, como no Cerrado, a pressão de pragas, como, bicho mineiro e ácaro vermelho, tem roubado o sono dos produtores. Com níveis de chuvas abaixo do histórico, a maioria dos cafeeiros sofreram escaldaduras, justamente na fase de enchimento dos grãos e na retenção de folhas para a próxima safra.
No Espírito Santo, se tratando do café Conilon, também já existe a expectativa de que a safra 2024 seja menor. O clima mais quente a ausência de chuvas, também prejudicou a produtividade.
El Niño em solo amazônico
Em Rondônia, as chuvas atrasaram, mas vieram em um bom volume para a produtividade. O pesquisador da Embrapa, Enrique Alves, destaca a expectativa de uma boa safra, mesmo sob influência do El Niño. “O que aconteceu é que as lavouras que não tinham irrigação sofreram mais, com as chuvas atrasadas. No entanto, a maioria das lavouras do estado são irrigadas. A safra pode ter uma redução de mais ou menos 5 ou 10%, porque tivemos escaldadura em algumas regiões, mas de modo geral, as lavouras estão desenvolvendo em boas condições”.
A vice-presidente da Caferon — Associação dos Cafeicultores Especiais de Rondônia, Poliana Perrute, explica que as lavouras mais velhas foram tão impactadas pelo El Niño, como os cafeeiros mais novos. “Estamos tendo desde o Natal, chuvas regulares, com precipitações acima de 20 milímetros diários. O que percebemos é um impacto nas lavouras de primeira safra. Não sei se foi um desbalanço entre porte e volume de copa, mas essas lavouras tiveram maiores prejuízos, e sofreram mais com escaldadura. Na última florada, já estava muito quente e algumas tiveram um grande abortamento. Acredito que nas lavouras jovens, teremos uma queda de 20 a 25% do que era esperado. Mas em uma média geral essa queda cai bastante se considerarmos a expectativa para a área que temos plantada”, ressalta.