Veranico impacta granação dos cafeeiros no Sul de Minas

por | mar 31, 2025

A granação dos frutos de cafeeiros no Sul de Minas e no interior de São Paulo foi severamente impactada pelo veranico registrado entre fevereiro e março. De acordo com levantamentos da Fundação Procafé, há uma certeza de que haverá queda no rendimento da produção cafeeira, embora a magnitude desse impacto ainda seja incerta.

“Hoje, rodando as áreas e com algumas avaliações que a gente vem fazendo, temos certeza que vai ter problema de rendimento. Isso é uma certeza. Quanto, a gente não sabe”, afirmou André Moraes, pesquisador da Fundação Procafé.

Os estudos conduzidos compararam lavouras irrigadas e de sequeiro em diferentes regiões cafeeiras, observando a quantidade de frutos boia e o peso dos frutos afundados. Os resultados demonstram um padrão claro: nos cafeeiros de sequeiro, houve maior incidência de frutos boia e redução do peso médio dos grãos.

“No Arara, em Varginha, o número de frutos boia em 200 frutos foi de 17 no sequeiro e 14 no irrigado, ou seja, o irrigado teve 20% menos boia em relação ao sequeiro. Quando olhamos o peso, no sequeiro estava 8% mais leve”, detalhou Moraes.

Fenômeno semelhante foi observado em Boa Esperança, onde a variedade Acaiá apresentou um diferencial menor, mas ainda significativo: 7% menos boia nas lavouras irrigadas e um peso 3% superior em relação ao sequeiro.

Mesmo lavouras irrigadas foram impactadas pelo veranico devido ao estresse térmico e à baixa umidade relativa do ar, o que prejudica a fotossíntese e reduz o potencial de granação dos frutos.

“Mesmo com água no pé, o dia muito quente e a umidade relativa baixa fazem com que o cafeeiro feche os estômatos para evitar a perda de água. No entanto, ao fazer isso, ele também impede a entrada de CO2, comprometendo a fotossíntese”, explicou Moraes.

A avaliação também indicou que as condições adversas do veranico resultaram em maior incidência de frutos chochos e pretos, que representam 100% de perda na produção. Além disso, os frutos que sobreviveram ainda apresentam menor rendimento, maior incidência de grãos quebrados e cata elevada, fatores que afetam a qualidade final do café.

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“Vai ser um ano de baixo rendimento e de cata maior. A gente só não sabe o tamanho desse problema, porque ele varia muito de lavoura para lavoura”, concluiu o pesquisador. Com os impactos já observados, os produtores precisarão redobrar a atenção ao manejo para minimizar prejuízos e buscar estratégias para mitigar os efeitos do clima adverso sobre a próxima safra.