Safra de Café 2025: quebra é confirmada e colheita surpreende pela antecipação

por | jul 19, 2025

Produtores relatam perdas de até 30% e rendimento abaixo do esperado, mesmo com florada exuberante. “A quebra está totalmente dentro do que prevíamos”, afirma pesquisador da Fundação Procafé.

Apesar da expectativa gerada por uma florada expressiva no final de 2024, a safra de café 2025 tem decepcionado produtores em diversas regiões do país. A colheita, que já ultrapassou 60% em algumas áreas, foi marcada por um ciclo climático extremamente desafiador, com seca severa, veranico e problemas na granação. O resultado, de acordo com o pesquisador Alisson Fagundes, da Fundação Procafé, é claro: há uma quebra consolidada entre 20% e 30% na produção esperada.

“A hora que o produtor começou a andar pela lavoura, ele viu que ia colher menos. Mas isso não foi surpresa. Essa quebra nós já vínhamos alertando desde agosto do ano passado”, explica Alisson.

Ainda que parte dos agricultores tenha se surpreendido ao encontrar mais frutos do que o temido após a seca, o que está sendo observado no beneficiamento confirma o alerta técnico feito ao longo de vários episódios do podcast da Fundação Procafé. “O café apareceu, mas não é uma supersafra. É a mesma quebra que já estava prevista”, destaca.

Um ciclo de extremos: da seca à florada única

A quebra da safra não foi provocada por um único fator, mas sim por uma sequência de eventos climáticos adversos. Em 2024, o déficit hídrico bateu recordes e comprometeu a florada, que, embora tenha ocorrido com intensidade, foi praticamente única.

“O produtor levou um susto com a seca histórica. Depois, com a florada única de 80% a 90%, ele se iludiu achando que a perda não seria tão grande”, relata Alisson. No entanto, o problema surgiu logo em seguida: “O pegamento da florada foi ruim. Muita flor caiu, e isso comprometeu a formação dos frutos”.

Além disso, mesmo em lavouras irrigadas, o pegamento não ocorreu como o esperado, devido à falta de força no botão floral. O resultado foram grãos chochos, mal formados e de baixo peso, como apontado em levantamentos feitos pela Fundação Procafé e apresentados em dias de campo ao longo do ano.

Rendimento abaixo do esperado e antecipação da colheita

Conforme o beneficiamento avança, a frustração se confirma. “É unânime: o café não deu o que o produtor imaginava. E o rendimento de beneficiamento está baixo em praticamente todas as regiões de Arábica”, afirma Alisson.

A antecipação da colheita também chama atenção. Segundo levantamento feito pela equipe da Fundação Procafé com dezenas de técnicos e produtores de confiança, a safra já ultrapassou a marca dos 50% colhidos em todo o Brasil, e em muitos casos já chega a 70%. “A colheita correu muito mais rápido este ano, e até o final de agosto a maior parte já estará encerrada”, projeta o pesquisador.

Nas regiões mais frias, a quebra foi menos acentuada. Já nas áreas mais quentes, os prejuízos superaram as expectativas. “Onde o calor foi mais intenso, a quebra assustou. Ela foi ainda maior do que a que tínhamos estimado”, relata.

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O peso do grão: um novo desafio para o produtor

Diferente da safra de 2024, em que os grãos eram pequenos, mas densos, neste ano o cenário é outro: grãos maiores, porém leves. “O nosso problema agora é de peso. Tivemos fruto graúdo, mas com baixa densidade, por conta da falha na granação”, explica Alisson.

Fotos e dados compartilhados pela Fundação mostram grãos com partes boas e outras completamente ocas, o que compromete a qualidade final do produto e reduz o rendimento por hectare. A previsão feita ainda em março de 2025 sobre o impacto da escaldadura e do veranico foi, portanto, confirmada na prática.

Mercado reage com queda de preços, mas alerta continua

Mesmo diante de uma safra menor, os preços do café caíram, o que gerou ainda mais desconforto entre os produtores. Segundo Alisson, isso se deve, em parte, à antecipação das entregas: “O café chegou de uma vez no mercado, porque muitos produtores venderam logo no início da colheita, aproveitando os preços altos”.

Apesar disso, o pesquisador ressalta que nem ele, nem seus colegas, fazem recomendações de mercado. “Nós não entendemos de mercado de café. Nosso papel é alertar sobre a realidade da lavoura”, enfatiza.

Panorama regional: onde a quebra foi maior?

De acordo com o levantamento, o Sul de Minas, dividido entre regiões frias e quentes, está com aproximadamente 50% da colheita concluída. No Cerrado Mineiro, a média está entre 35% e 40%. Já nas Matas de Minas, a colheita chega a 70%. Paraná e Conilon também avançam rapidamente, com até 70% já colhidos.

A exceção positiva ficou por conta do Conilon, especialmente no Espírito Santo e sul da Bahia, onde a safra surpreendeu positivamente. “Todos os produtores de Conilon que consultamos relataram desempenho melhor do que o esperado. Apenas Rondônia teve quebra significativa, mas lá já se tratava de um ano de safra baixa”, pontua Alisson.