A região amazônica possuí muitos sabores e culturas que são importantes para o Brasil. Além dos cafés Canéforas, o Cacau, fruta nativa do município de Cacoal, interior de Rondônia tem ganhado um novo fôlego na região.

Há alguns anos a doença “vassoura de bruxa” atacou muitos cacaueiros na região amazônica. O impacto foi desastroso e disseminou muitas lavouras. O Brasil chegou a ser o primeiro produtor de cacau do mundo e a doença o colocou em sétimo lugar, posição que ocupa até os dias de hoje. No entanto, atualmente muitas pesquisas avançaram em relação a doença e impactaram em novas estratégias de manejo para proteger a planta. Isso desencadeou uma retomada da produção em município como Cacoal, que teve seu nome associado ao fruto, devido à grande produção que tinha anos atrás.

O pai de Sandra ajuda nos tratos culturais com a lavoura
A produtora Sandra Bartinik, é hoje uma das referências no manejo do cacau no município. Ela relata que desde 2005, ainda estudando, “namorava” a possibilidade de trabalhar com o fruto. No ano de 2017, o sonho cresceu e junto ao esposo resolveu encarar o desafio de buscar pelo cultivo. O seu cacau foi plantado em 2019. “Fizemos a escolha dos clones, aqui nós temos 16 clones em uma área de um alqueire, que é 2.4 hectares e iniciamos com o sombreamento provisório de banana”.
O cacau que tem necessidade de sombreamento logo no plantio, para que se não se tenha elevação no consumo de água e consequentemente no custo de produção, pode ser consorciado com várias culturas. “Hoje já se tem técnicas para a produção de cacau desde o início, mas é um pouco mais complicado o controle de pragas, doenças e a própria instalação do desenvolvimento inicial. Nós optamos pela banana, pra ter uma renda e até mesmo custear parte dessas despesas né?!”.
As mudas produzidas pela família foram feitas com hastes de um jardim clonal registrado no estado, as plantas que são matriz tem origem do órgão da Ceplaque Rondônia. E entre as características dessas mudas, a produtora ressalta a alta produtividade. “Elas veem agregadas com boa resistência a pragas, doenças e resistência a vassoura de bruxa”.
Atualmente um hectare contempla 1.111 plantas no espaçamento de 3×3 a depender o arranjo de cada produtor. Os clones possuem uma produção de três a cinco quilos e alguns até de nove quilos.
Manejo e paixão
Sandra relata que o sonho de trabalhar com cacau começou a partir da paixão pelo chocolate. Ela relata que o primeiro desafio foi encontrar amêndoas de qualidade naquela época e isso acabou a levando para o cultivo do fruto. “Quando eu comecei pensar nisso, não tinha muitos produtores fazendo amêndoa de qualidade superior. A gente tinha na Bahia, despontando essa ideia, mas aqui não. Em Rondônia a gente tinha pouquíssimos. E como a ideia era produzir o chocolate, a gente teve que ir da matéria prima para o produto processado”.
E após descobrir que precisaria produzir suas próprias amêndoas em busca do chocolate de qualidade, a produtora foi em busca de um manejo e pós-colheita ideal para o cacau, ideia que tem ganhado cada vez mais força no mercado.
“O pós-colheita do cacau, inicia no momento que você tira a planta do pé, faz o corte dela ali, você deixa 48 hs dentro do fruto ainda, para que os açúcares que estão nessa polpa, aquela parte de mucilaginosa de fora da semente, seja absorvido pela semente. Ele descansa e ai começa a qualidade. Você faz a quebra do cacau e leva para os coxos de fermentação e aí é um outro processo, onde fica só essa semente nesses coxos, que são recipientes grande de madeira, que mantém a temperatura. O líquido vai secando com o tempo e então essa amêndoa vai perdendo esse líquido, e os microorganismo que tem ali, principalmente as bactérias e outros, vão fazendo a fermentação”.
A fermentação anaeróbica (sem a presença de ar) dura em torno de dois dias, e a massa do cacau fica intacta sem ser mexida nesse tempo. No pico de temperatura dentro desses dois dias, o cacau produz o ácido asséptico, momento em que ele chega ao ponto e a semente passa para amêndoa. “Tudo depende de clone pra clone, de temperatura noturna e diurna, porque essa massa de cacau tem que ficar dentro de uma temperatura para que ocorra à fermentação. Nessa fase ela deixa de germinar, e aí você vai formando umas galerias internas e é onde o aroma e sabor vão sendo ressaltados”, explica.

E você deve estar pensando, o que leva essa dedicação a uma cultura com tantos desafios, não é mesmo?! A produtora tem a resposta pronta. “O cacau é amor, é vida, hoje começo o dia pensando em cacau e término pensando em cacau, a minha família na verdade. O cacau é a nossa vida”.
