Alta nos preços do leite no Brasil e desafios do setor em 2024

por | jul 15, 2024 | Agenda Agrícola, Agenda agrícola Destaque, Agropecuária Destaques, Leite | 0 Comentários

A cadeia leiteira segue registrando alta no Brasil. Ao longo do ano, o setor já acumulou sete altas consecutivas no preço pago ao produtor. Desde janeiro, esse avanço foi de 30,4%.

O presidente da Abraleite (Associação Brasileira de Leite), Geraldo Borges, destaca que muitos produtores já não conseguiam mais fechar as contas no final do mês. Esse movimento de alta consecutiva nos preços sinaliza o cenário de crise vivenciado pelo setor. “Os preços ao produtor estavam muito baixos, então, a base de comparação para se chegar aos 30,4% é de um momento muito ruim para o pecuarista”, explica Borges.

Em maio, essa alta foi de 9,8% em comparação com o mês de abril. Na média nacional, o litro do leite ficou em R$ 2,71, segundo o Cepea (Centro de Estudos em Economia Aplicada).

Baixa produção na cadeia leiteira do Brasil

Alguns fatores explicam esse movimento de alta no mercado, entre eles, a redução da produção no campo. Os dados da Scot Consultoria apontam que, no acumulado anual, essa captação diminuiu 8,7%. “O Índice de Captação da Scot Consultoria apresentou queda de 0,3% em maio em relação a abril. Os menores investimentos dentro da porteira no final do ano passado, devido ao aumento nos custos de produção, o avanço da entressafra no Sudeste e Centro-Oeste do país, e o atraso da safra no Sul limitaram a oferta de leite”, destaca a analista de mercado da Scot Consultoria, Juliana Pila.

Expectativas de preços do leite no segundo semestre

A probabilidade de queda nos preços para o segundo semestre não está distante. Levando em consideração o momento de entressafra, os produtores estão recebendo os melhores preços do ano. “E a velocidade da queda vai depender da quantidade importada. Isso explica a preocupação, já que as importações estão disparando”, ressalta Borges.

Os desafios tendem a envolver, além dos custos de produção, o desequilíbrio entre oferta e demanda, conforme destaca João. “Esse desequilíbrio se soma ainda às características da atividade leiteira, que trabalha com margens estreitas. Pensando nisso, é preciso se esforçar para reduzir os custos”, lembra Juliana.

Para Borges, com uma possível queda nos preços, como já é esperado, e sem aumento nos custos, os produtores tendem a suportar a safra elevando a oferta em campo. “Tudo é questão de sabermos se os custos irão subir ou não. Nos dois últimos meses subiram e os produtores vivem de margem”, explica.

Expectativas reais em campo

As pesquisas da Scot Consultoria em campo apontam que, para o pagamento realizado em julho, referente à produção entregue em junho, o cenário é de estabilidade a alta mais comedida. “Segundo levantamento da Scot Consultoria, 64,8% dos laticínios pesquisados apontam para estabilidade nos preços, 25,2% falam em alta e 10% apontam para baixa”.

A analista também comenta que essa firmeza do mercado pode se perder com a recuperação gradativa da produção em campo, bem como o incremento na captação na região Sul, além da remuneração melhor do pecuarista nos últimos meses, que pode levar a alguns investimentos. “Outro ponto é que o repasse do campo aos preços dos lácteos tem sido difícil, colaborando para o enfraquecimento da alta. Além disso, a importação continua sendo um fator de incerteza para o mercado. De toda forma, sazonalmente a produção tende a crescer a partir de setembro/outubro e, com isso, a curva de preço muda de sentido”, ressalta.

Importações seguem castigando setor leiteiro no Brasil

O volume de leite importado no Brasil, nos cinco primeiros meses do ano, ficou 4% menor em comparação com o mesmo período de 2023. “Apesar do recuo, cabe destacar que a comparação é com uma base alta, visto que em 2023 o volume importado de lácteos pelo Brasil foi o maior já registrado”, destaca Julia.

Com mais competitividade em comparação com o leite nacional, os importados ainda são uma incerteza para a cadeia brasileira ao longo dos próximos meses. O Brasil também tem registrado um movimento de alta nos preços de derivados lácteos, o que eleva a competitividade e favorece as importações. “Com isso, são criados indicativos de que nos próximos dois a três meses (considerando o período entre uma negociação e chegada efetiva do produto), as importações podem apresentar algum avanço em relação ao patamar observado em maio”. No entanto, precisamos lembrar que o decreto do governo federal em vigor atualmente tende a limitar o volume de importados para a cadeia.

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