Alerta para safra 25/26 de café no Brasil

por | ago 26, 2024

Nova preocupação para o setor; produtividade pode ser novamente alvo de inconstância climática

Pelo quarto ano consecutivo, o clima é o maior e mais desafiador problema da cafeicultura brasileira. A colheita da safra atual já alcançou 98% no Brasil, segundo o último levantamento da Safras e Mercado, com uma estimativa de quebra entre 20% e 30% nas principais regiões produtoras.

Na reta final desta colheita, alguns pontos se destacam, como o inverno atípico com temperaturas elevadas e a ausência de chuvas em muitas regiões.

E como fica a florada para a safra 25?

As expectativas dos produtores estão agora totalmente voltadas para as precipitações esperadas em setembro. Com a colheita chegando ao fim, a florada deve emergir nas próximas semanas. Em regiões como Alto da Mogiana Paulista, Sul e Cerrado Mineiro, o déficit hídrico se torna um problema sério se as chuvas não vierem.

Os últimos levantamentos da Fundação Procafé reforçam a gravidade desse déficit nessas regiões. De janeiro a julho deste ano, a região de Varginha, por exemplo, registrou um déficit hídrico de 234 milímetros abaixo da média, refletindo a situação no Sul de Minas. Na Mogiana Paulista, o déficit já alcança 220 milímetros, mas o pior cenário está no Triângulo Mineiro, onde cidades como Araguari registraram 250 mm abaixo da média. Outras cidades, como Patrocínio e Araxá, também enfrentam déficits significativos de 122 mm e 135 mm, respectivamente.

Esses dados referem-se ao mês de julho, e a Fundação Procafé alerta que agosto pode apresentar uma situação similar caso as chuvas não cheguem.

“Em agosto do ano passado, tivemos 60mm de chuvas. Este ano, se continuar assim, o déficit em Varginha, no Sul de Minas, pode chegar a 190 mm,” explica o pesquisador da Fundação Procafé, Rodrigo Naves Paiva.

Temperaturas sobem novamente

Nos últimos anos, o inverno nas regiões cafeeiras nunca foi tão quente como agora. Tanto para arábica quanto para conilon, o clima seco com temperaturas acima da média acende um alerta para a safra 25 no Brasil.

“A florada depende da chuva. Se ela não vier, o pegamento pode ser prejudicado. Além disso, as lavouras já estão sofrendo com o déficit hídrico e as altas temperaturas. Devemos lembrar que a planta já sai debilitada da colheita, com algumas desfolhas, e esse contexto pode prejudicar ainda mais,” comenta Rodrigo.

Os dados da Fundação Procafé indicam que, em julho, as temperaturas ficaram 1,9ºC acima da média. A situação se agrava ainda mais com a previsão de ausência de chuvas até o final de agosto. Para setembro, é esperado que ocorram 70 mm de chuvas nessas regiões produtoras em Minas Gerais.

“Mas, se não tivermos essa chuva, o estresse hídrico, que já é significativo, pode piorar e prejudicar o pegamento,” alerta Rodrigo.

Calor, geada e florada: qual é o manejo ideal?

Apesar de assustar os cafeicultores, a geada registrada no Cerrado Mineiro — considerada uma geada de capote, que atinge apenas as partes externas da planta — não representou risco para a próxima safra.

“A geada de capote é insignificante perto do que o déficit hídrico pode causar. No Cerrado Mineiro, temos a mesma preocupação que no Sul de Minas,” ressalta Rodrigo.

O cenário é preocupante para os cafeicultores, pois o Brasil deve sair de uma safra com quebra e enfrenta incertezas para o próximo ciclo cafeeiro. Rodrigo ressalta que essas expectativas podem ser revertidas se as chuvas em setembro forem boas, algo que não é comum para a época.

Geada atingiu lavouras no Cerrado Mineiro e no Mogiana Paulista 

Uma das certezas desse cenário é a necessidade de um manejo preciso e eficiente pós-colheita e pré-florada. Segundo o pesquisador Rodrigo Naves, é essencial que o produtor cumpra o dever de casa nesse momento, aplicando os nutrientes com maior deficiência em seu solo, volte a palha de café para a lavoura e realize todas as adubações necessárias.  “Esse manejo é essencial para quando voltar a chover, a lavoura já deve estar preparada”, lembra Rodrigo.

O surgimento de pragas com o clima atual nessas regiões também é uma preocupação. Ataques como do bicho-mineiro e ácaro vermelho, tendem a ser os principais. “A planta fica muito empoeirada, e o produtor precisa estar atento, porque às vezes não tem nem condições de aplicar o produto, a não ser em caso excepcional”, conclui Rodrigo.