Seca severa derruba produção de castanha-da-amazônia na safra 2024/2025

por | abr 11, 2025

A produção de castanha-da-amazônia — também conhecida como castanha-do-brasil ou castanha-do-pará — sofreu forte retração na safra 2024/2025. A queda é resultado da seca extrema e das altas temperaturas que atingiram a região amazônica, intensificadas pelo fenômeno El Niño. A expectativa é de que a próxima safra apresente recuperação, mas pesquisadores reforçam a urgência de medidas de adaptação para garantir a sustentabilidade do setor.

Impactos climáticos afetam floração e formação dos frutos

A Amazônia enfrentou um dos períodos de seca mais intensos das últimas quatro décadas. Entre agosto de 2023 e maio de 2024, o El Niño provocou baixa nebulosidade, alta radiação solar, queimadas prolongadas e aumento significativo nas temperaturas, comprometendo a umidade do solo — fator essencial para o ciclo reprodutivo da castanheira.

“O ciclo da castanheira é longo e bastante sensível ao clima. A floração, que dura de quatro a seis meses, acontece entre o fim da seca e o início da estação chuvosa, enquanto a maturação leva de nove a treze meses”, explica Carolina Volkmer de Castilho, pesquisadora da Embrapa Roraima.

Esse cenário lembra o registrado em 2017, após o El Niño de 2015/2016, quando houve queda generalizada na produção em toda a bacia amazônica. “A seca reduziu a floração, a frutificação e a atividade de polinizadores como as abelhas”, recorda Lucieta Martorano, da Embrapa Amazônia Oriental. O também pesquisador Raimundo Cosme de Oliveira Junior, da mesma unidade, reforça: “Foi a primeira vez que se identificou uma queda expressiva na produção em toda a região.”

Foto: Ronaldo Rosa

Safra 2025/2026 pode surpreender, mas exige cautela

Apesar da crise atual, os pesquisadores preveem uma possível superprodução na próxima safra, impulsionada por um ciclo de compensação natural das árvores e pela influência do fenômeno La Niña. No entanto, esse movimento pode gerar instabilidade de preços no mercado.

Em 2017, por exemplo, a escassez elevou o preço da lata (20 litros) de castanha para R$ 180,00. Já em 2018, com a superoferta e a queda na demanda industrial, os preços despencaram para R$ 25,00 ou menos — um “efeito ressaca” que levou anos para se estabilizar. “Foi necessário um período de cinco anos para que o valor se ajustasse ao patamar de R$ 60,00 a lata”, relata Patrícia da Costa, da Embrapa Meio Ambiente.

Atualmente, em março de 2025, com a nova escassez, a lata de castanha já é vendida por cerca de R$ 220,00.

Caminhos para a adaptação

A adoção de boas práticas de manejo é apontada como estratégia essencial para enfrentar a crise. Técnicas como o corte de cipós — tradicionalmente usado por extrativistas — podem aumentar em até 30% a produção das árvores infestadas e melhorar a saúde das castanheiras. “Estudos ao longo de dez anos comprovam os benefícios dessa prática”, destaca Lúcia Wadt, da Embrapa Rondônia.

O manejo adequado também favorece a regeneração natural da espécie, que encontra dificuldades em áreas muito sombreadas. A produção de mudas em miniestufas e o modelo agroflorestal “Castanha na Roça”, testado na Resex Cajari (AP), têm mostrado bons resultados ao integrar agricultura e floresta.

“O Castanha na Roça utiliza áreas de capoeira e roça da agricultura itinerante, promovendo a regeneração natural das castanheiras e o surgimento de novos castanhais”, explica Marcelino Carneiro-Guedes, da Embrapa Amapá.

Qualidade e segurança do produto

Com a expectativa de maior produção na próxima safra, também cresce a importância de garantir qualidade e segurança do produto. A secagem adequada, o armazenamento em locais secos e arejados e o transporte correto são fundamentais para evitar a contaminação por aflatoxinas, substâncias tóxicas e potencialmente cancerígenas.

“As boas práticas de coleta e armazenamento preservam a qualidade da castanha, agregam valor e garantem a segurança alimentar”, reforça Cleisa Brasil, da Embrapa Acre.

A Embrapa também avança no desenvolvimento de castanheiras mais produtivas e resistentes ao clima, por meio do seu programa de melhoramento genético.

Proposta de seguro-extrativismo

Para enfrentar os impactos da crise climática, pesquisadores e lideranças extrativistas defendem a criação de um seguro-extrativismo, que ofereça compensação financeira em anos de baixa produção. A proposta está sendo articulada por membros do Observatório da Castanha da Amazônia (OCA), que pretendem apresentá-la ao Congresso Nacional.

“Nossa economia depende do extrativismo, mas a falta de chuvas vem afetando drasticamente a produção. Precisamos de mecanismos de segurança”, argumenta Napoleão Ferreira de Oliveira, da Resex Médio Purus (AM). Ele defende ainda a criação de um abono para os extrativistas, semelhante aos auxílios recebidos por outros setores do agronegócio.

A castanha-da-amazônia é o produto florestal não madeireiro mais importante para a geração de renda na região. Um sistema de seguro adequado contribuiria não apenas para a segurança financeira das comunidades, mas também para a conservação da floresta, a manutenção da biodiversidade e a valorização das práticas sustentáveis.