Os desafios da produção de café na Chapada de Minas e as superações dos produtores

por | nov 4, 2022

A cafeicultora Luciana Valias administra a fazenda Nossa Senhora Das Valias a cerca de 14 anos. Embarcou neste cultivo após receber a propriedade de herança do pai, Sérgio Meirelles que se tornou proprietário em 1980. A fazenda está localizada na zona rural de Aricanduva, no Norte de Minas Gerais. São 40 hectares com 60 mil pés de cafés plantados. Entre as variedades cultivadas na fazenda está o Catuaí amarelo, catuaí vermelho e mundo novo em uma altitude de 1030 metros que favorece o cultivo, já que o clima fresco e úmido é propício para o café.  E foi aqui que a produtora decidiu embarcar no cultivo depois que o pai lhe fez um pedido.

“Meus pais doaram as propriedades para os filhos e ele me pegou meio que no laço e me levou para o Norte de Minas. E me pediu para não abandonar tudo o que ele tinha levado muito tempo para construir. E me disse: -Você vai tocar sim!”

A fazenda Valias está situada  na região mineira conhecida como Chapada de Minas. Um lugar onde se concentra grande parte da produção de café. A região passou a cultivar o café na década de 1970 quando as lavouras das principais regiões cafeeiras do Brasil foram afetadas por geadas provocadas pelo intenso frio. Na ocasião foram registradas grandes perdas na produção brasileira.

Luciana decidiu encarar sozinha e seguiu com o pedido do pai. Entre erros e acertos foi dando continuidade, pois sabia que poderia contar com o apoio de quem tanto admirou trabalhar e que apresentou a ela pessoas que seriam essenciais durante toda a caminhada. Entre essas pessoas estava o agrônomo Antônio Vander, que de acordo com o seo Sérgio, seria o melhor profissional que ele conhecia.

“ O Dr Antônio Vander foi me orientando muito sobre a poda do café, sobre adubação, para estar pulverizando. Me orientou que seria necessário levar um agrônomo na fazenda para ajustar as máquinas. E eu não fazia noção de nada disso. E ele foi me instruindo em tudo o que era necessário.”

No início o maior desafio para Luciana foi a falta de conhecimento para o plantio, já que a produtora tinha como profissão a psicologia. Abriu mão da vida na cidade de São Gonçalo do Sapucaí (MG), e do convívio em família para dar continuidade nos trabalhos que o pai já iniciara na fazenda.

A produtora assume que no início apanhou muito. Foi preciso realmente colocar a mão nos trabalhos. Sem administrador na fazenda, viu que seria preciso assumir a colheita, o terreiro e tudo o que era necessário nos processos de café. desde o plantio até a entrega dos produtos nas cooperativas da região.

“ Eu media café, subia em cima do caminhão. Já teve ano que eu mesma virava o café no terreiro. Era eu quem tocava o meu terreiro. E foi meu irmão quem me alertou que eu estava fazendo errado. Segundo ele eu precisava de alguém para trabalhar no meu lugar e eu tinha que pensar. E com tanto trabalho, não dava tempo pra isso!”

E foi assim que em meio a tantas lutas vieram os resultados promissores. Com o tempo foi pegando o jeito e junto com os colaboradores da fazenda foi adquirindo conhecimento. E foi desta maneira que a produtora chegou a uma qualidade surpreendente.

Hoje a produtora se empenha no pós-colheita para produção de cafés especiais. São notas sensoriais que se destacam no paladar de quem experimenta. E acreditando no potencial do café que ela mesma produz, se arriscou em participar de concursos como o 30º Concurso Qualidade Minasul de Café.  E se destacou conquistando o 1º lugar com 88,44 pontos na categoria AMAM, que tem como objetivo valorizar o trabalho das mulheres e destacar o carinho delas pela cultura. Sem contar que na categoria Cereja Descascado/Despolpado também ficou em 1º lugar do pódio dos cafés especiais da Minasul com 88,88 pontos. E foi todo esse carinho que a Luciana colocou na lavoura, todo o trabalho que ela desempenhou que a fez seguir e chegar tão longe.

“Para mim o café significa muito trabalho e cuidado porque entendo que as pessoas ingerem o café. Então eu vejo esse fruto com muito critério porque o café é um alimento. Tudo o que dá trabalho a gente toma amor, assim como eu cuido e amo meus filhos eu posso dizer que eu amo o meu café.”