Oportunidade e desafios para o cacau brasileiro

por | jan 31, 2025

A cacauicultura brasileira vive um momento estratégico, com potencial para expansão e crescimento sustentável. Segundo Ana Paula Losi, presidente da Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC), a produção nacional pode desempenhar um papel importante na diversificação do mercado global de cacau, tradicionalmente concentrado na África.

A cabruca, sistema agroflorestal característico do sul da Bahia, é um dos pilares da produção nacional e tem grande relevância ambiental. “Aonde tem cacau, tem Mata Atlântica. Aonde não tem mais cacau, acabou a Mata Atlântica”, destaca Ana Paula.

No entanto, a produtividade desse sistema é um desafio para o Brasil e para garantir a viabilidade econômica, a presidente da AIPC enfatiza a necessidade de melhorar as práticas produtivas sem comprometer a conservação ambiental.  “Uma produtividade de 350 quilos já é baixa, mas tem região na cabruca que é 100 quilos. Ninguém sobrevive”.

Outro ponto crítico para a cacauicultura nacional é a rastreabilidade da produção. Atualmente, cerca de 25% do cacau adquirido pela indústria provém diretamente dos produtores, sem intermediários, o que permite monitoramento detalhado. No entanto, os outros 75% são comprados por intermediários, o que dificulta a rastreabilidade.

“Nosso esforço hoje é como trazer rastreabilidade para esse cacau que vem do intermediário”, explica Ana Paula. Para isso, a AIPC, em parceria com a Imaflora, está desenvolvendo uma cartilha técnica de sustentabilidade para fortalecer as práticas do setor.

Além do mercado europeu, cada vez mais rigoroso com exigências ambientais, há também demanda interna por um produto sustentável. “Gosto da forma como o governo brasileiro tem falado: são os mercados exigentes. E o mercado exigente não é só o mercado externo, o mercado nacional também tem a sua parcela”, pontua a especialista.

A capacidade instalada da indústria brasileira de cacau gira em torno de 300 mil toneladas anuais, mas a produção ainda não atinge esse volume, o que obriga o Brasil a importar matéria-prima.

“Hoje não existe investimento de aumento de capacidade instalada no Brasil porque não tem cacau no Brasil”, afirma Ana Paula. Para mudar esse cenário e atrair investimentos, é necessário elevar a produção para patamares superiores a 350 mil toneladas.

A conjuntura global também influencia o setor. O preço do cacau segue altamente volátil, com forte impacto da oferta e da demanda mundial. “Não acredito que esse preço volte, nos próximos anos, aos patamares de 2022 e 2023”, avalia Ana Paula. O consumo na Europa será um fator determinante. “Se o consumo na Europa começar a cair muito, a tendência é que o preço na Bolsa de Nova York também caia”. No Brasil, a alta nos preços já provoca mudanças no comportamento do consumidor, que busca alternativas mais acessíveis.

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Apesar dos desafios, a presidente da AIPC enxerga um momento de oportunidades para a cacauicultura brasileira. “O mundo está olhando para a cacauicultura brasileira e das Américas. Eles perceberam que concentrar 70% a 80% da produção mundial numa única região pode trazer consequências complexas“. A diversificação geográfica da produção é uma estratégia para reduzir riscos climáticos e garantir estabilidade ao mercado global.

Com investimentos em sustentabilidade, rastreabilidade e aumento da produção, o Brasil tem potencial para alcançar 400 a 500 mil toneladas nos próximos 15 anos. “A gente tem que aproveitar o momento”, conclui Ana Paula Losi.