O papel da Embrapa no desenvolvimento do trigo no Brasil

por | abr 20, 2023 | Agropecuária Destaques, Tecnologia, Tecnologia Destaque | 0 Comentários

Ganhos de eficiência, redução dos custos de produção, rentabilidade e expansão da área agrícola são alguns dos resultados gerados pela Embrapa em cinco décadas de existência

São 124 cultivares de trigo, 21 de cevada, 16 de triticale, 4 de aveia e 3 de centeio disponibilizadas para a agropecuária desde a criação da Embrapa Trigo, centro de pesquisa da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que completará no dia 26 e  abril 50 anos de existência. O programa de melhoramento genético de cereais de inverno conduzido pela Embrapa tem sido determinante para o crescimento dos cultivos de inverno nos mais diversos ambientes do País e demonstra a contribuição da empresa para que o Brasil alcançasse nos últimos anos rendimentos recordes.

No trigo, foram desenvolvidas cultivares para os mais diferentes usos, como fabricação de pães, massas, bolachas e biscoitos, além de trigos para alimentação animal em forma de grãos ou forragem conservada. Atualmente, de cada dez cultivares de trigo que estão no mercado, sete contam com germoplasma da Embrapa.

Com a contribuição da pesquisa, a média de produtividade em trigo cresceu 5 vezes nas lavouras brasileiras. Na safra 2022, os rendimentos variaram de 3 mil kg/ha (cultivo de sequeiro) a 10 mil kg/ha (irrigado), resultado do desenvolvimento de cultivares com ampla adaptação, estabilidade no rendimento e resistência a doenças, possibilitando assim a consolidação e expansão dos cultivos de cereais de inverno no País, bem como a redução no uso de defensivos e aumento na rentabilidade do produtor.

No início dos anos 2000, a produção de trigo atendia 30% da demanda nacional. Na safra 2022, a produção supriu 83% da demanda. Num cenário de contínuo crescimento de área e manutenção dos índices de produtividade nas lavouras, a autossuficiência em trigo poderá ser alcançada nos próximos anos.

Da pecuária aos grãos

A Embrapa Trigo foi criada em 28 de outubro de 1974, em Passo Fundo, RS. Nestas cinco décadas, as pesquisas voltadas à intensificação do uso da terra e à sustentabilidade da produção de cereais de inverno fizeram a história da agropecuária brasileira, avançando da Região Sul para novas fronteiras agrícolas no País.

A criação deste centro de pesquisa revolucionou a paisagem rural na Região Sul nos anos 1970, com a gradual substituição dos campos de pecuária extensiva, em solos ácidos e cobertos por capim barba de bode, pelas lavouras de grãos e cultivo de pastagens para suprir a pecuária. “A criação da Embrapa Trigo tinha a finalidade de reduzir a dependência externa do Brasil por trigo. As  importações oneravam os cofres públicos e a escassez desse cereal ameaçava a segurança alimentar da população”, conta o pesquisador Gilberto Cunha.

Segundo ele, nas primeiras tentativas de produzir trigo no sul do Brasil, seja pela importação de semente ou usando as trazidas pelos imigrantes europeus, especialmente quando eram trigos de inverno, as lavouras acabavam dizimadas, seja por doenças, pela toxidez do solo ou por falta de frio para cumprir o ciclo.

Com a missão de viabilizar soluções tecnológicas para o desenvolvimento sustentável do agronegócio de trigo e de outros cereais de inverno no Brasil, a Embrapa Trigo dedicou-se inicialmente à criação de um programa de melhoramento genético, além da introdução de linhagens de trigo trazidas do Centro Internacional de Melhoramento de Milho e Trigo (CIMMYT), com sede no México, onde também foram treinados os primeiros pesquisadores que chegavam à Embrapa.

Vencida a adaptação genética, começaram a ser desenvolvidas as cultivares brasileiras de trigo visando ao crescente aumento da produtividade, evoluindo para a racionalização no uso de recursos, competitividade na qualidade tecnológica e geração de renda nos diversos elos da cadeia. Atualmente, as pesquisas estão alinhadas às novas tendências de consumo, promoção da saúde e preservação do meio ambiente.

Novas fronteiras

O avanço da soja para o Centro-Oeste do Brasil levou junto o trigo. O programa de melhoramento genético de trigo para o Cerrado foi intensificado na Embrapa na década de 1980, com a oferta das primeiras cultivares poucos anos depois. O foco das pesquisas na época estava sobre o sistema de produção, como encaixe na rotação de cultura da região, zoneamento climático, identificação de possíveis pragas e doenças da região tropical, disponibilidade de máquinas e insumos.

Em 2012, a Embrapa instalou em Uberaba, MG, o Núcleo Avançado de Trigo Tropical, onde uma equipe de pesquisadores e assistentes desenvolvem ações em melhoramento genético, manejo e transferência de tecnologia para trigo tropical.

Outro importante apoio está na Embrapa Cerrados, em Planaltina, DF. Com suporte da pesquisa e o setor produtivo melhor organizado, rapidamente o trigo expandiu e conta com o cultivo  indicado para os estados de SP, MG, MS, MT, BA, GO, DF. Novas fronteiras nas regiões Norte e Nordeste do Brasil, estão sendo prospectadas pela pesquisa em parceria com produtores, indústria moageira e institutos federais de pesquisa. Levantamento da Embrapa Territorial mapeou 2,7 milhões de hectares na região do Cerrado que podem ser cultivados com trigo, sem necessidade de abrir novas áreas.

No Rio Grande do Sul, atualmente maior produtor de trigo no País, também estão sendo abertas novas fronteiras para o cereal. O avanço da soja na Metade Sul do Estado abriu espaço para a triticultura, seja para a produção de grãos ou como forragens para engorda do gado no inverno. Sistemas de drenagem em áreas de várzea, em rotação com arroz e milho, estão sendo desenvolvidas em parceria para a Embrapa Clima Temperado, assim como modelos de ILPF com cereais de inverno são avaliados em conjunto com a Embrapa Pecuária Sul.

Segurança Alimentar

O melhoramento genético tem buscado amenizar o problema da qualidade nutricional do trigo pelo aumento da concentração de proteínas e um balanço mais adequado de aminoácidos no grão. Os principais avanços estão associados com uma menor concentração de Ácido Fítico, que implica em farinhas de trigo com concentração mais elevada de Fósforo, Magnésio e Manganês, reduzindo assim o uso de aditivos durante a industrialização dos alimentos. “Alimento de qualidade e com oferta capaz de atender tanto os brasileiros quanto o mercado internacional é o que move a Embrapa Trigo rumo ao futuro”, conclui o Chefe-Geral da Embrapa Trigo, Jorge Lemainski.

Números

Hoje a Embrapa Trigo conta com uma equipe de 178 colaboradores, atuando na sede em Passo Fundo, RS; na unidade de Coxilha, RS; na Embrapa Cerrados e no Núcleo Avançado de Trigo Tropical, em Uberaba, MG.

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