Leite: Segundo Abraleite, se o cenário não mudar mais abandonos da atividade podem ocorrer

por | ago 3, 2022

O Brasil é o terceiro maior produtor de leite do mundo e nos últimos meses o aumento no preço do leite nas gondolas do supermercado surpreendeu à todos, menos aos produtores rurais. Isso porque, a maioria relata que o aumento é apenas reflexo de um passado gigantesco de crise aos longo dos últimos anos vivenciada pelos produtores.

A produtora Helena Nogueira está na atividade há onze anos, na Fazenda Baixadão, em Carmo da Cachoeira, no Sul de Minas e destaca que é preciso levar em consideração o advento dos fatores climáticos no ano passado, que também prejudicou a cadeia do leite. “Foi um ano com difícil para produção de volumoso para as vacas que estão no sistema de confinamento né?! A gente depende da produção de alimento pra conseguir uma maior produtividade e compensar esse período de entressafra pra quem tá no manejo de pastagem”.

O período de entressafra destacado pela produtora, é o período em que se reduz todos os anos, a produção de leite. Nesse período, o Brasil passa por uma estiagem de pastagem, e a condição climática não tem favorecido os produtores de leite a pasto. Mas segundo a produtora, todos os anos, nesse período, é normal a redução. O que não foi normal, foram os problemas climáticos que refletiram no setor.

A crise e o abandono da atividade  

Mas se o preço do leite assustou os consumidores nos últimos meses, ao longo dos últimos anos, o preço pago ao produtor tem os amedrontado. Diversos fatores contribuíram para esse cenário.

Neste ano, o aumento no preço do fertilizante, no diesel e nos custos de produção de um modo geral fizeram essa situação se tornar pior e insustentável para muitos produtores.   “Esses fatores agravaram a situação e esse ano particularmente a gente viu que minguou, sumiram os produtores de leite no Brasil. Porque são anos dos produtores passando por crise”, ressalta a produtora.

Além dessas muitas dificuldades a abertura do mercado brasileiro para a importação de leite, de países como, Uruguai ou Argentina, também tem sido um incomodo aos pecuaristas brasileiros. “Eles abrem as políticas para a importação de leite, começa a entrar leite de fora. Vem leite via Mercosul e o preço dos produtores nunca sobem, mas a margem da indústria se mantém. Então os produtores não conseguem receber nesse período de crise, de baixa produção e aumento de custo”.

A maioria dos produtores tem trabalhado com margens negativas ou muito apertadas e isso, explica o abandono da atividade por parte de muitos. O presidente da Abraleite – Associação Brasileira dos Produtores de Leite, Geraldo Borges, pontua que o abandono da atividade aconteceu em uma maior escala nos últimos meses, justamente pela dificuldade do produtor em trabalhar no azul. “Muitos que abandonaram a produção fizeram, inclusive, que acontecesse uma escassez de oferta no mercado, que fizeram com que surgisse a alta observada do preço do leite no supermercado”.

A situação ocasionou o fato de que as indústrias brasileiras tiveram menos volume de leite acessível e isso gerou uma demanda maior do que a oferta. A competição entre essas industrias e também no varejo, aumentou o preço para o consumidor final.  Além disso, muitos laticínios brasileiros estão na tentativa de comprar o leite fora, mas a situação nos outros países não é diferente. A Argentina e o Uruguai também não estão com produção de leite em nível normal, na verdade, estão produzindo menos e exportando menos.

Ainda segundo o presidente da Abraleite, o ideal é que a atividade tivesse uma estabilidade nos custos de produção e que o produtor tive ao menos previsibilidade de ganho.  “É muito difícil você produzir como estamos produzindo hoje, com dificuldade na compra de insumos, podemos citar fertilizantes, combustível, óleo diesel, todos os produtos veterinários, ração, milho e soja, que tiveram esses desequilíbrios grandes. Tudo isso em decorrência da pandemia e dessa guerra da Rússida contra a Ucrânia, que está trazendo incertezas no mercado. Precisamos lembrar que o setor sofre há muitos anos com a imprevisibilidade, ele fornece o leite dele a indústria que lhe compra durante muitos dias e ele só vai saber o preço que ele vai receber depois”.

E o grande questionamento que fica diante de um cenário caótico com a desistência de tantos produtores pela atividade, e as dificuldades enfrentadas, é, quais os rumos que a pecuária leiteira deve tomar?

Como produtora, Helena ressalta que o cenário se repete em todo país. Mas acredita muito que os produtores que investem em tecnologia, infraestrutura e em gestão, conseguirão se manter no mercado. “Eu acredito que os produtores que tornaram a fazenda um empreendimento bem gerido, bem administrado, eles vão conseguir ser bem valorizados pelas empresas, porque elas dependem da gente pra produzir esse alimento que vai ser usado no varejo”.

Já o presidente da Abraleite ressalta, que o pequeno produtor não consegue sobreviver. A necessidade de investimentos é real. Mas caso o cenário não mude, novas desistência da atividade poderão surgir. “Se continuar tendo problemas do tipo de custo de produção alta e problema no preço pago ao produtor, certamente isso vai acontecer. Torcemos para que isso não aconteça, esperamos que tenhamos dias melhores pela frente”.