As últimas semanas foram marcadas por um cenário climático irregular nas principais regiões produtoras de café do Brasil. Apesar das floradas terem ocorrido de forma generalizada, as chuvas que antecederam esse período foram, em muitos casos, insuficientes para garantir boa umidade no solo, resultando em floração desuniforme e pegamento comprometido.
A análise foi discutida no novo episódio do Podcast Pro Café, com apresentação de Alexandre e participação do pesquisador da Fundação Procafé, Alisson Fagundes, que avaliaram os impactos das variações climáticas sobre a safra 2026 e as medidas de manejo que devem ser priorizadas neste momento.
Segundo os especialistas, as chuvas registradas entre setembro e outubro variaram entre 5 e 15 milímetros em várias localidades, volume considerado baixo para uma boa abertura de florada. “Muitos produtores receberam apenas 5 milímetros. A lavoura chegou a florir, mas essa umidade foi insuficiente, provocando desidratação de botões e fecundação anormal, o que deve aumentar o percentual de fruto moca”, explicou Alisson. Essa irregularidade climática, aliada às altas temperaturas do final de setembro, também pode resultar em grãos menores, com peneira reduzida nas primeiras floradas.
Ainda assim, o pesquisador destacou um ponto positivo: a terceira florada, que ocorreu entre o último sábado e domingo, foi considerada a mais uniforme e promissora até o momento. Entretanto, as temperaturas mínimas mais baixas registradas no amanhecer em algumas áreas representam um fator de risco para o desenvolvimento da phoma, doença que prospera sob condições de umidade elevada.

“O produtor deve ficar atento. Mesmo quem fez aplicação há 20 ou 25 dias precisa avaliar se é o momento de repetir o tratamento, especialmente nas regiões mais frias e úmidas”, alertou Alexandre. O manejo fitossanitário, portanto, deve ser proativo, com intervalos menores entre aplicações, evitando a perda de frutos recém-formados.
Outro ponto abordado no episódio foi a dificuldade em confiar nas previsões meteorológicas de longo prazo. De acordo com os apresentadores, a previsão tem acertado bem o comportamento de curto prazo, mas erra quando o horizonte é mais extenso. Por isso, a recomendação é que o produtor baseie suas decisões de campo nas janelas reais de 24 a 72 horas, especialmente para pulverizações e tratos nutricionais, priorizando o manejo eficiente ao invés de depender de projeções incertas.
Quando o assunto é produção, o consenso entre os especialistas é que a safra 2026 deve ser boa, embora não alcance os níveis da super safra de 2020. “A safra é promissora, principalmente se comparada às dos últimos anos, mas ainda está longe da de 2020”, explicou Alisson. A previsão é de volume expressivo, mas sem excedente capaz de recompor os estoques mundiais, o que deve manter o mercado de café equilibrado e com preços estáveis. “O ideal é termos uma safra cheia com preço justo, e não picos de preço sustentados por quebras de produção. Isso gera desequilíbrio e prejudica toda a cadeia”, reforçou Alexandre.
Os analistas também chamaram atenção para o risco de eventos climáticos adversos nos próximos meses, como granizo, veranico e frio pontual, embora sem previsão de geadas. “Não há nada que melhore o que já está posto. O foco agora é proteger o que vingou e manter o pegamento com bom manejo e nutrição adequada”, destacou Alisson. Nesse contexto, o produtor deve garantir a boa nutrição das lavouras, com especial atenção a fósforo, potássio, cálcio, boro e zinco, nutrientes essenciais para fixação dos frutos e crescimento dos chumbinhos.
A expectativa geral é que o final da primavera e o verão tragam umidade mais constante, ainda que com períodos intercalados de sol forte. “Até o momento, temos flor, e flor ainda não é café. É hora de cuidar para que ela se transforme em fruto. O manejo correto fará toda a diferença para o resultado final”, concluiu Alexandre.
Com atenção ao controle de phoma, nutrição equilibrada e decisões pautadas em observação de campo, a cafeicultura brasileira entra nos próximos meses com condições favoráveis para consolidar uma safra 2026 produtiva, capaz de repor parte da oferta global e sustentar preços em níveis rentáveis para o produtor.
 
			  
 
									 
									 
									