Emissões de metano por Tilápias medidas em condições tropicais

por | abr 17, 2023 | Agropecuária Destaques, Tecnologia, Tecnologia Destaque | 0 Comentários

Pesquisadores brasileiros, pela primeira vez, mediram as emissões de metano em produções de tilápia (Oreochromis niloticus) em tanques-rede para condições tropicais. Os resultados são provenientes de estudos controlados em três afluentes secundários do reservatório de Ilha Solteira (SP): Formoso, Cancan e Ponte Pensada. Nestas áreas as pisciculturas tratadas tratadas em média, por ano, 800 toneladas de tilápia, o primeiro, e 3 mil toneladas os outros dois afluentes. Parte desses resultados foi publicada na revista Environmental Challenges.

Aproximadamente 75% das emissões ebulitivas (por bolhas) de metano em produções de tilápia foram registradas em locais com tanques-rede, em comparação às demais superfícies do reservatório. Porém, as bolhas foram eventos pontuais e não ocorreram em toda a área dos tanques-rede. A emissão de gases de efeito estufa (GEE) é decorrente de processos naturais de transformação da matéria orgânica e outros compostos químicos na coluna d’água e sedimento. Atividades que contribuem com o aporte de matéria orgânica e outras substâncias que degradadas emitem GEE, funcionaram com o aumento das emissões. Este pode ser o caso de pisciculturas e outras atividades no entorno do reservatório.

Conforme Marcelo Gomes da Silva, do Programa de Bolsas do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pouco se sabe sobre a contribuição da piscicultura nos processos de emissão ou remoção de GEE em reservatórios tropicais. Uma das principais preocupações associadas às fazendas de peixes está relacionada à liberação na água de substâncias consideráveis​​​de matéria orgânica, proveniente de alimentos não consumidos e excrementos de peixes, que podem ser convertidos em GEE. Os GEE produzidos em corpos d’água são transportados para a superfície principalmente por dois interruptores.

No fluxo difusivo, os gases formados no sedimento e na água são transportados através da coluna de água para a atmosfera.O ebulitivo, originário de bolhas formadas no substrato, é liberado quando ocorre a inspiração da água ou quando uma bolha supera a pressão hidrostática, atravessando a coluna de água e sendo liberada para a atmosfera.

Para um resultado fidedigno, foi necessário estudar os dois transportes. O difusivo, apesar de ser comum e acontecer no reservatório inteiro, tende a ter menor emissão de metano quando comparado com a emissão por bolhas. O estudo no reservatório de Ilha Solteira mostrou que a média de transmissão de metano por difusão foi de 5 miligramas por metro quadrado por dia.

Por outro lado, a emissão de metano ebulitivo, que é menos frequente, chegou a emitir bolhas de 5 mil a 10 mil miligramas por metro quadrado por dia. Estudos no exterior quase não avaliaram a emissão por bolhas porque esta é uma característica de reservatórios tropicais, de áreas de águas mais quentes, com muita matéria orgânica disponível.

Para a inclusão dos dados nos inventários nacionais, os pesquisadores de áreas tropicais sugerem considerar as emissões ebulitivas. “Quando fazemos análise de metano, com modelagem para determinar esse fluxo de gás que sai da coluna de água para a atmosfera, ou com uso de equipamentos que medem apenas o ar atmosférico em cima do reservatório, esses métodos não conseguem pegar essas bolhas”, observa Gomes da Silva.

A grande importância desse trabalho é mostrar que além dos tanques-rede aumentarem a emissão de gás de efeito estufa na forma de metano, elas ampliam muito o fluxo ebulitivo, isto é, a quantidade de bolhas e o impacto pela emissão de metano. Por isso, a importância de se entender os dois transportes de gases para a atmosfera.

De acordo com Silva, observou-se que o aumento das emissões de metano esteve associado à área de produção de tilápia. O aumento observado foi de cerca de seis vezes para o metano difusivo e de, aproximadamente, 2 mil vezes para as emissões ebulitivas, em comparação com as áreas externas dos tanques-rede.

 

 

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