Como as taxações dos EUA podem atingir o Brasil?

por | fev 5, 2025

A possibilidade de novas taxações impostas pelos Estados Unidos a países parceiros gera incertezas no comércio global e pode trazer impactos diretos e indiretos ao Brasil. Apesar de o país não ser um alvo direto das tarifas aplicadas pelo governo norte-americano, os reflexos dessa guerra comercial podem afetar setores estratégicos, como o agronegócio e a pecuária.

O posicionamento do Brasil diante das tarifas

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que, caso os Estados Unidos decidam impor tarifas a produtos brasileiros, o Brasil adotará o princípio da reciprocidade.

“É lógico. O mínimo de decência que merece um governo é utilizar a lei da reciprocidade”, disse Lula em entrevista a rádios de Minas Gerais. O presidente destacou que a Organização Mundial do Comércio (OMC) permite taxações de até 35% para produtos importados e que, se necessário, o Brasil responderá na mesma medida.

Apesar disso, Lula ressaltou que prefere a via diplomática e a busca por relações comerciais equilibradas. “O que eu acho é que o mundo está precisando de paz, de serenidade”, declarou, reforçando que os Estados Unidos não podem se isolar comercialmente.

Benefícios para o agronegócio brasileiro

A guerra comercial entre os Estados Unidos e a China já trouxe vantagens ao agronegócio brasileiro no passado e pode continuar beneficiando o setor. O analista de mercado Matheus Pereira, da Pátria Agronegócio, destaca que as barreiras tarifárias aplicadas pelos chineses contra os EUA desde 2018 favoreceram as exportações brasileiras, especialmente no setor de grãos.

“Desde 2019, a China já concentra 100% da sua demanda por soja no Brasil. Eles compram tudo o que temos de exportável. Não há espaço para aumentarem essa demanda, mas há preocupações em relação a possíveis atritos comerciais dos norte-americanos com o Brasil. Porque eles são grandes consumidores das nossas proteínas animais”, explica Pereira.

Além disso, ele alerta para os impactos indiretos na cadeia de insumos, como fertilizantes, onde o Canadá é um importante fornecedor de potássio.

Oportunidades e riscos para a pecuária brasileira

No setor pecuário, a guerra comercial também pode gerar oportunidades. O México, que recentemente firmou um acordo para facilitar a entrada de commodities brasileiras, pode ampliar suas compras de carne bovina, suína e de frango do Brasil, especialmente se houver restrições ao comércio com os Estados Unidos.

“O Brasil pode vender grandes volumes de carne para o México e para a China, como já faz hoje. Há um espaço imenso para o setor se beneficiar dessa guerra comercial”, afirma o analista da Safras e Mercado, Fernando Iglesias. No entanto, ele pondera que os Estados Unidos dificilmente taxariam a carne brasileira, pois dependem das importações do produto devido à baixa produção interna.

“A carne já é um item extremamente caro nos Estados Unidos hoje, pesa nos índices inflacionários, e eles têm comprado grandes volumes do Brasil. Taxar a carne seria prejudicial para eles mesmos”.

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A relação com os Estados Unidos

Enquanto o Brasil se beneficia em alguns aspectos da guerra comercial, há um fator de atenção para o futuro. Se o governo norte-americano endurecer sua política tarifária, setores estratégicos da economia brasileira podem ser impactados.

O presidente Lula reforçou a importância do BRICS como um bloco econômico capaz de equilibrar as relações comerciais globais. “Nós temos o direito de discutir uma forma de comercialização em que não dependamos apenas do dólar”, afirmou.

Por enquanto, a posição brasileira é de cautela, buscando manter boas relações diplomáticas e comerciais com os Estados Unidos, ao mesmo tempo em que aproveita as oportunidades criadas pelo cenário internacional.