Café brasileiro ganha força na China em meio a tensões com EUA

por | ago 4, 2025

A China autorizou 183 empresas brasileiras a exportarem café para o país, em decisão anunciada pela embaixada chinesa no Brasil. A medida, que entrou em vigor em 30 de julho e terá validade de cinco anos, ocorre poucos dias após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, impor uma tarifa de 50% sobre o produto brasileiro.

As exportações de café brasileiro para a China vêm registrando forte expansão. Segundo dados do Cecafé, no ano-safra 2023/24, os embarques cresceram 186,1% frente ao ciclo anterior. Em 2024, o valor exportado chegou a US$ 525 milhões, alta de 65% em relação a 2023. Apenas no primeiro semestre de 2025, foram enviadas 538 mil sacas de 60 kg. O avanço acompanha o crescimento médio de 20% ao ano no consumo chinês ao longo da última década, com o consumo per capita dobrando nos últimos cinco anos.

O movimento também reflete o fortalecimento das relações bilaterais. Em maio, durante visita a Pequim, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou com Xi Jinping um pacote de acordos para ampliar as importações de café brasileiro, incentivar a cooperação técnica e promover pesquisas conjuntas sobre cultivares mais resistentes ao clima. As negociações também buscaram reforçar o livre comércio diante de tensões globais, como as tarifas impostas pelos EUA.

A nova tarifa de 50% sobre o café brasileiro nos Estados Unidos, que importam cerca de 8 milhões de sacas por ano, deve redirecionar parte desse volume para mercados alternativos. Nesse cenário, a China, como parceira estratégica no BRICS, surge como destino prioritário para absorver a oferta. Entre as iniciativas privadas, destaca-se o acordo firmado entre a rede chinesa Luckin Coffee e a ApexBrasil para a compra de 120 mil toneladas de café brasileiro até 2026, negócio avaliado em US$ 500 milhões. A empresa também lançou, em 2025, a segunda edição do “Brazil Coffee Culture Festival”, evento que promove o café nacional e celebra os 50 anos de relações diplomáticas entre Brasil e China.

Negociações com os EUA e desafios logísticos no mercado chinês

O Brasil mantém conversas com os Estados Unidos para tentar isentar o café brasileiro das tarifas, argumentando que a produção doméstica norte-americana não atende à demanda do país. Enquanto isso, mais de 150 representantes do agronegócio brasileiro, incluindo produtores de café, participarão de uma feira em Xangai para fortalecer a presença no mercado chinês. Analistas ressaltam que a China tem buscado diversificar sua segurança alimentar, reduzindo a dependência de fornecedores como EUA e Austrália, o que favorece o Brasil como parceiro estratégico. No entanto, o redirecionamento do café para a China pode aumentar os custos logísticos, sobretudo se parte do produto for reexportada para os EUA por rotas alternativas para driblar as tarifas impostas.