Café brasileiro ganha força na Europa após tarifa dos EUA redesenhar o comércio global

por | out 29, 2025

Quando Donald Trump impôs uma tarifa de 50% sobre o café brasileiro, em agosto, a decisão foi vista como um gesto político voltado à proteção dos produtores americanos e ao reforço da retórica nacionalista. No entanto, dois meses depois, os efeitos econômicos dessa medida começaram a reorganizar o fluxo global do café.

Alemanha ultrapassa EUA e lidera importações de café do Brasil

Em setembro, a Alemanha se tornou o principal destino do café brasileiro, com 654,6 mil sacas importadas, o equivalente a 17,5% das exportações nacionais no mês. Os dados são do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé).

Por outro lado, os embarques para os Estados Unidos despencaram 52,8% na comparação com o mesmo período de 2024. Desde a imposição das tarifas, o preço médio do café brasileiro nos EUA subiu cerca de 40%, reduzindo a competitividade frente a origens como Honduras e Vietnã.

Como resultado, importadores americanos renegociaram contratos e diminuíram as compras de blends brasileiros, tradicionalmente usados por grandes torrefadoras e redes de cafeterias.

União Europeia consolida posição como principal destino

Enquanto os Estados Unidos se retraem, a União Europeia se consolida como maior destino do café brasileiro. Em conjunto, os países do bloco responderam por mais de 60% das exportações de setembro.

A Alemanha, que abriga um dos principais polos de torrefação e reexportação da Europa, ampliou sua participação, beneficiando-se da desvalorização do real e de custos logísticos menores em comparação à rota americana.

Além dela, Itália, Bélgica, Holanda e Japão seguem entre os maiores compradores. Esse movimento evidencia uma mudança estrutural nas relações comerciais, com a Europa reforçando sua liderança como destino preferencial do café brasileiro.

Colômbia surpreende e entra entre os 10 maiores compradores

Um dos dados mais curiosos do levantamento do Cecafé vem da Colômbia. Tradicional concorrente do Brasil na produção de café arábica, o país entrou pela primeira vez entre os dez maiores importadores do grão brasileiro, com um salto de 567% nas compras em relação a setembro de 2024.

De acordo com o Cecafé, o aumento não reflete uma inversão permanente do mercado, mas uma situação temporária. A Colômbia enfrenta problemas de safra e tem buscado suprir o mercado interno, além de reexportar o produto dentro do regime de drawback, que concede incentivos fiscais à importação de insumos destinados à exportação.

Exportações caem em volume, mas receita cresce 30%

Mesmo com o choque comercial provocado pelas tarifas, o desempenho financeiro do café brasileiro em 2025 tem surpreendido.

De janeiro a setembro, o Brasil exportou 29,1 milhões de sacas, uma queda de 20,5% em volume frente a 2024. Entretanto, a receita cresceu 30%, somando US$ 11,05 bilhões.

Em setembro, as exportações totalizaram 3,75 milhões de sacas de 60 kg, o menor volume para o mês em três anos. Ainda assim, a receita avançou 11,1%, atingindo US$ 1,37 bilhão, impulsionada pela valorização dos contratos futuros e pela alta internacional dos preços do arábica.

Estratégia de exportação e foco em cafés premium

Segundo o Cecafé, o desempenho positivo reflete não apenas os preços elevados, mas também uma estratégia mais sofisticada dos exportadores brasileiros, que têm direcionado o produto para mercados premium e cafés especiais.

Esse movimento reforça o posicionamento do Brasil como líder global em qualidade e volume, mesmo em um cenário de barreiras comerciais e reconfiguração geopolítica.

Em conclusão, o impacto das tarifas norte-americanas provocou ajustes estruturais, mas também abriu novas oportunidades para o café brasileiro na Europa e em mercados de maior valor agregado — um cenário que, a médio prazo, tende a fortalecer a imagem e a competitividade da cafeicultura nacional.