Café: volatilidade e tarifas dos EUA trazem cautela ao produtor

por | ago 13, 2025

Com a colheita de café entrando na reta final no Brasil, o cenário de preços mantém um patamar considerado positivo pelos produtores, apesar da recente desvalorização. De acordo com levantamento da Cooxupé, 94% da safra havia sido colhida nas regiões de atuação da cooperativa, Sul de Minas, Cerrado Mineiro, Matas de Minas e São Paulo.

Segundo Luiz Fernando, gerente comercial da Cooxupé, mesmo com a queda recente, as cotações atuais superam os níveis observados no início de 2025, quando o mercado registrou recordes históricos. “O momento ainda é de bons preços, principalmente se compararmos ao início do ano”, afirma.

Rendimento abaixo do esperado

Apesar do valor de mercado favorável, o desempenho da safra trouxe frustração. O rendimento em litros para produzir uma saca de café beneficiado ficou acima da média histórica, reduzindo a eficiência e aumentando os custos indiretos.

Custos e margem para investimentos

Os custos de produção variam conforme a região e o tipo de colheita — mecanizada ou manual —, mas, em média, o preço atual cobre as despesas e deixa margem para investimentos. Essa condição tem levado o produtor a adotar uma postura mais estratégica, priorizando compras à vista e mantendo recursos para evitar vendas em momentos desfavoráveis.

Fatores que influenciam o mercado

O cenário de preços é impactado por múltiplos fatores: clima, câmbio, oferta interna, demanda externa e, principalmente, o baixo nível dos estoques mundiais. “Qualquer problema de produção pode ter um efeito significativo nas cotações, especialmente no Brasil, maior produtor global”, observa Luiz Fernando.

A pressão baixista típica do período de colheita foi intensificada por fatores financeiros no início do ano, mas ainda assim o mercado sustenta valores atrativos. Geopolítica, guerras e incertezas internacionais acrescentam volatilidade a um setor já tensionado.

Barter com cautela

As negociações de barter, troca de insumos por café futuro, seguem tímidas. A principal razão é a curva invertida do mercado futuro, em que contratos mais longos valem menos que os atuais, o que reduz o incentivo. Além disso, o produtor aguarda maior clareza sobre a safra 2026 antes de assumir compromissos.

Perspectivas para 2026

O potencial produtivo para 2026 é considerado bom, mas ainda cedo para confirmar números. Caso a florada e o desenvolvimento da lavoura confirmem a expectativa otimista, pode haver pressão baixista sobre as cotações. No entanto, o baixo nível de estoques globais limita o espaço para quedas acentuadas.

Impacto das tarifas dos EUA

A recente decisão dos Estados Unidos de aplicar tarifas adicionais ao café brasileiro acende um alerta. Em 2024, o país importou 33% do seu volume total de café do Brasil, e 76% da população adulta americana consome a bebida.

Para Luiz Fernando, a medida ameaça a competitividade do produto brasileiro, mas a substituição nos blends americanos não é simples. “O consumidor americano está acostumado com as características do café brasileiro, e não há oferta disponível para substituir esse volume rapidamente. Por isso, esperamos que o cenário se resolva e possamos manter essa parceria histórica”, ressalta.

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