Florada antecipada e clima instável marcam reta final da colheita de café no Brasil

por | ago 13, 2025

A colheita de café no Brasil entra na reta final em meio a um cenário climático desafiador. Nos últimos dias, produtores registraram eventos extremos que preocupam para as próximas safras. No Sul de Minas, chuvas de granizo atingiram lavouras em julho, enquanto, na madrugada da última segunda-feira (11), uma geada surpreendeu cafeicultores do Cerrado Mineiro, especialmente na região de Patrocínio.

Segundo André Moraes, pesquisador da Fundação Procafé, apesar de o impacto dessa geada não afetar o café colhido em 2025, compromete parte importante da produção futura.

“A grande maioria das lavouras estavam bem desenvolvida e projetadas para uma boa safra no próximo ano. No entanto, com o congelamento, há casos em que a perda pode ser total, eliminando a produção de 2026. Dependendo da intensidade, a planta pode perder desde metade até a totalidade das flores e folhas, comprometendo todo o ciclo produtivo”, explica.

No Sul de Minas, o fenômeno foi mais brando, com geadas pontuais em áreas baixas. Ainda assim, a atenção permanece voltada para as condições climáticas dos próximos dois meses, período considerado decisivo para definir o potencial da próxima safra.

Além da geada, outro fator chama atenção nesta temporada: o aparecimento de floradas antecipadas. Pequenas aberturas foram registradas já em agosto, impulsionadas pela combinação de temperaturas mais amenas e chuvas isoladas, como a registrada em 25 de julho.

“Essa florada é levemente antecipada, mas está dentro do padrão. Ela não prejudica a produtividade, embora possa causar uma maturação menos uniforme, o que influencia a qualidade do café”, afirma Moraes.

O pesquisador explica que a indução floral começa meses antes, por volta de fevereiro. Quando não há um déficit hídrico prolongado, como ocorreu este ano, os botões florais apresentam diferentes estágios de desenvolvimento. Assim, chuvas fora de época podem estimular flores mais adiantadas, resultando em várias floradas ao longo da temporada, e não apenas uma ou duas muito concentradas.

Para Moraes, a condição atual das plantas também contribui para esse comportamento. “Como a produção deste ano foi menor em muitas regiões, as lavouras estão mais energizadas, com boas reservas de carboidratos. Isso favorece a resposta às chuvas e à umidade, estimulando a abertura de flores em momentos distintos”, observa.

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A expectativa é que a principal florada ocorra entre o fim de agosto e a primeira quinzena de setembro, desde que as condições ideais se confirmem: chuva consistente e temperaturas ligeiramente mais altas. “O potencial produtivo já está formado. A partir de agora, só podemos perder ou manter o que temos. Por isso, o clima nesse período é determinante para o desempenho da safra de 2026”, conclui o pesquisador.