Melhor café do Brasil pode estar em Muzambinho, segundo a Illy

por | jul 11, 2022

Cafeicultor também investe em testes de fermentação com levedura de cerveja

Saiu de Muzambinho o café que ficou entre os três melhores do Brasil no prêmio Illy de qualidade 2022. Os grãos são da Fazenda Harmonia, que além de ser destaque nacional, participa agora da competição em nível mundial. A fazenda também ocupou destaque na premiação regional, ficando em primeiro e segundo lugares na categoria, representando o Sul de Minas.  Com 160 anos, a história da Fazenda Harmonia teve início com Candido de Souza Machado, bisavô do produtor Candido de Sordi Machado, ou como é conhecido popularmente na cidade, Candinho. “A Fazenda Harmonia começou com meu bisavô e dele passou para o meu pai, Joaquim de Paiva Machado, que me trouxe pra trabalhar. E hoje tenho meu filho aqui”. Candinho destaca a busca por melhorias que agregam cada vez mais valor ao café. Segundo ele, isso se tornou essencial para a cultura que vive altos e baixos. “Agora mesmo, estamos passando por um momento difícil, porque o café comparado com insumos, defensivos e adubo, está muito caro (para produzir). Mas não tem como fazer nada, tem que ir tocando. Eu sempre gostei de café e é uma herança de família que precisamos manter”.

O produtor toca a fazenda junto do filho, Rodrigo Machado, que destaca a importância de 100 anos de história, passando por dificuldades e contratempos na cafeicultura. “Eu tenho orgulho de ter vindo de uma família de cafeicultores. Nesse tempo todo eles passaram por muitas coisas e isso, além de orgulho me traz um pouco de senso de responsabilidade, a questão de tentar manter do mesmo jeito que meu bisavô, meu avô e meu pai mantiveram a tradição do café aqui em Muzambinho”.

CONCURSO

A família participa da premiação Illy de qualidade há cinco anos e em todos eles foi finalista no concurso. “Foi uma surpresa enorme pra gente ter pego o primeiro e segundo lugar do Sul de Minas, e estar entre os três melhores do Brasil, pra participar agora do concurso internacional. Isso pra gente foi uma surpresa e uma alegria muito grande. Um reconhecimento do trabalho do meu pai e de toda família”.
De acordo com o produtor não houve nenhum manejo ou técnica diferenciada de pós-colheita nesses cafés que foram campeões. Para ele, a dedicação e o empenho com a cultura, foi o principal motivo de tantas premiações. “Desde o plantio até a colheita do café, o diferencial eu acho que é a dedicação dos meu pais que tá fazendo a gente levar esse grande prêmio”.
Candinho se sente honrado com a conquista e nos planos, está a continuidade desse trabalho. “É uma grande honra ser o melhor café do Brasil, é bom demais. Agora, é cada vez mais melhorar. Não tem processo diferente e nem segredo, é o que fazemos todo ano, despolpar o café, e secar no terreiro suspenso, trato normal”.

MANEJO E FERMENTAÇÃO COM LEVEDURAS DE CERVEJA

A fazenda enfrentou alguns anos de crise, assim como muitas outras da região, e hoje produzindo a 1.200 metros de altitude cumpre as técnicas de manejo básicas dentro da lavoura, mas se dedica no pós-colheita. “A gente trabalha com o café cereja descascado, que depois de colhido vai pra um processo no via úmida, onde é separado o café cereja do café boia. O café cereja ele é descascado, onde depois ele vai para o terreiro suspenso”.
A técnica de secar o café no terreiro suspenso foi abraçada pelos produtores. A fazenda tem quase 4400 metros de terreiro suspenso. “Vimos certos benefícios na melhora da qualidade secando o café nesse tipo de terreiro. Primeiro por evitar fermentações indesejadas porque tem uma aeração muito melhor no terreiro suspenso, porque acaba ventilando de todos os lados e também por conta da seca mais lenta, o que leva o café a ser mais uniforme na hora que acaba essa seca”. 

Produtor Rodrigo Machado ao lado dos pais 

Recentemente os produtores também começaram a investir em técnicas diferentes para o café, como a fermentação em leveduras de cerveja. Rodrigo relata que viu a técnica de fermentação natural em outro país e como cervejeiro caseiro, ao voltar para o Brasil, pensou em trabalhar com as duas paixões.  “Eu vi a fermentação natural pela primeira vez na Guatemala. Quando voltei para o Brasil, pensei nessa união. Eu sou cervejeiro caseiro e estou fazendo testes ainda, usando a própria levedura que a gente retira da cerveja, para uma fermentação. A ideia é ver quais os tipos de benefícios que a gente pode trazer na bebida do café. Ainda estamos em fase experimental, mas acho que pode ser bem promissor”, relata.